Jogos são um veículo de entretenimento tão artístico quanto literatura ou cinema, e o estúdio tcheco responsável por Pilgrims sempre se valeu dessa lógica. O Amanita Design, responsável por títulos de sucesso como Samorost e Machinarium, acerta mais uma vez com seu título mais recente. Lançado em outubro de 2019, Pilgrims está disponível para celular e computador. O jogo tem tradução integral para português brasileiro.
Em Pilgrims, a abertura já é bastante peculiar: dois camponeses, um padre, uma velhinha e o diabo jogam baralho, fazendo apostas. O objetivo principal da história é ajudar um dos personagens a realizar uma travessia de barco, num cenário medieval que remete à vida dos primeiros ingleses que colonizaram os Estados Unidos. Sem uma única palavra escrita, são as ilustrações feitas e animadas à mão que conduzem a narrativa.
A mecânica é simples: trata-se de um point & click em que todos os itens e personagens são cartas. Você os arrasta até o cenário e lá eles interagem, completando objetivos simples. Pilgrims não é sobre quebra-cabeças complexos, e sim sobre criatividade. Existem diversas formas de atingir objetivos, assim como existem diversas interações que não influenciam o andamento da história, mas são divertidas. Há um certo deslumbramento infantil em usar itens só porque pode acontecer algo inusitado.
Aliás, uma vez completada a história há incentivo para experimentá-la novamente, conseguindo um final diferente. Sem dilemas morais ou qualquer urgência, você vai se pegar comprando garrafas de bebida, dando vassouradas e enfrentando seres mitológicos com malabarismo para ver qual será o resultado. Como a pressa define a rotina da maioria de nós, sempre acho encantadora a existência de obras que não nos pressionam, e nos permitem interagir com toda a calma do mundo.
Algo que colabora grandemente para essa ambientação é a trilha sonora. Se você ainda não sabe, tenho a honra de informar que a sonoplastia da Amanita Design é conhecida por ser maravilhosa: as transições de música e os sons em geral são um alento aos ouvidos. Jogue com fone e agradeça aos céus por viver na mesma época em que Tomáš Dvořák (ou Floex) está vivo e nos presenteando com sua arte. Aqui vai uma amostra:
Depois de rasgar elogios, está na hora de dizer que o ponto fraco do título é sua duração. Em pouco mais de uma hora, terminei a história pela primeira vez e, sabendo algumas respostas, outras incursões demoram até menos. Outro fator que pode desanimar alguns é o espírito casual da aventura, sem desafios intelectuais ou pretensões de grandiosidade.
O que acredito ser razão suficiente para uma recomendação é a qualidade do trabalho. Desde as ilustrações cheias de personalidade até o senso de humor inortodoxo, Pilgrims é uma peça indie por excelência: esquisita, criativa e despreocupada com as demandas do mercado. A solidez do título reside em sua liberdade: Pilgrims é exatamente o que gostaria de ser.
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