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Análise de Indika: eu indico!

por Leandro Gomes Zavan
Publicado em Atualizado em 4 minuto(s) de leitura
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Indika é um jogo narrativo que debate a religiosidade com um leve tom de sátira, sendo ambientado na Rússia do século XIX com alguns elementos surrealistas. O jogo usa muito da gameplay e, principalmente, da cinematografia para contar sua história, sendo uma experiência bem singular e ousada. Vale ressaltar que, por ser um jogo com grande foco filosófico e artístico, ele usa da gameplay como um artifício para transmitir sua crítica, isso pode gerar estranheza e muito desconforto caso não esteja com a mente aberta para esse tipo de proposta.

Sobre sua história, acompanhamos uma jovem freira chamada Indika, apesar de ser extremamente fiel, a irmã sofre diversos preconceitos e até abusos das “colegas” do convento. Indika tem uma voz em sua cabeça que vive questionando e criticando suas crenças, essa voz pode muito bem ser a personificação dos seus pensamentos mais críticos e intrusivos, mas como também pode ser o próprio diabo. Assombrada por essas dúvidas e questões levantadas pela voz, junto dos abusos sofridos dentro do convento, Indika deseja muito sair de lá, até que um dia recebe uma missão para entregar uma carta, sendo essa a oportunidade perfeita para saciar seu desejo.

Após sair do convento, Indika finalmente ganha um gostinho de liberdade, mas os anos como freira fizeram ela se esquecer dos horrores do “mundo real”. Durante sua jornada, Indika encontra várias figuras peculiares, dentre elas Ilya Pasyuk, um prisioneiro em fuga que busca por uma benção divina para curar seu braço (que está necrosando), uma vez que ele acredita ter ouvido a voz de Deus o chamando. Após uma aliança inesperada, ambos seguem rumo nessa jornada bizarra para entregar a carta e conquistar a benção de Ilya.

Indika vai passando por situações mais desafiadoras e absurdas, fazendo com que a voz da sua cabeça fique cada vez mais presente, fazendo ela questionar e testar sua fé a todo momento. Livre das “rédeas” do convento, Indika se vê livre para questionar e debater algumas questões levantadas pela voz com Ilya, que está claramente “cego” pela fé. Apesar das incertezas, nossa freira encontra diversos itens religiosos e pequenos templos para rezar, assim exercendo um pouco mais de sua fé, que a nível de gameplay gera pontos para “evoluir” a religiosidade da protagonista.

Em relação a gameplay, por conta do estilo de vida do convento, Indika não tem muita força física, tendo que nitidamente fazer esforço para levantar e arrastar objetos. Além de fraca, a irmã tem uma mobilidade bem limitada por conta da sua roupa, isso reflete em uma gameplay com ritmo bem lento e intencionalmente tedioso em certos momentos. Contudo, esses elementos nos deixam mais próximos de Indika, fazendo você jogador sentir na pele os sufocos que ela passa, tornando assim o jogo em uma experiência mais íntima e empática.

Sobre a arte em Indika, o jogo faz um ótimo uso da cinematografia para contar sua história, tomando como inspiração a abordagem dos filmes do diretor Yorgos Lanthimos. O jogo é um prato cheio para amantes de cinema, sendo repleto de takes belos e muito bem pensados. Indika, apesar de fortemente cinematográfico, não abre mão das suas raízes de jogo e até usa uma estética retro 2D para retratar eventos do passado, por exemplo.

Veredito sobre Indika

Em uma indústria lotada de jogos de aventura em mundo aberto e rogue-likes, ver jogos ousados e criativos como Indika é um alívio. Além de ter uma proposta corajosa para um jogo, ele não se desprende dessa proposta, usando do começo ao fim a relação da protagonista com a aparente voz do demônio para debater pontos como a definição de certo e errado, o senso de justiça da nossa sociedade e até que ponto existe lógica na fé. Talvez não seja uma experiência recomendável para todo mundo, mas o jogo oferece uma experiência única com alto nível de qualidade.

Fazia muito tempo que eu não encontrava um jogo que usava de forma tão inteligente os recursos oferecidos pela mídia de jogos para contar sua história. Indika é um jogo que não tem medo do campo da experimentação, tendo uma gameplay tediosa, mas que alimenta uma narrativa instigante. Ele é um tipo de jogo para te tirar da zona de conforto, fiquei alguns dias pensando sobre questões que ele levantou através da dinâmica entre a protagonista e o “demônio”, dito isso, eu indico o Indika!

Indika está disponível para Playstation 5, Xbox Series X|S e PC via Steam, GoG e, em breve, na Epic Store.

A cópia de Indika usada para essa análise foi cedida pela desenvolvedora.


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