Santos Dumont, brasileiro inventor do 14-Bis, protótipo responsável pelo primeiro voo da história, concretizou o que até o início do século XX era romantizado como exercício angelical: planar pelos céus. Aokana – Four Rhythms Across the Blue, desenvolvido pela Sprite e publicado em 2019 pela NekoNyan, transubstancia concepções acerca deste desafio, mobilizando um universo convidativo e perfeitamente conveniente. Com identidades delimitadas, comicidade, vexames, romance agradável – e vulgar -, esportes atmosféricos dinâmicos e realismo físico, este é um romance visual um tanto quanto excêntrico.
Por mais bobo, desorganizado e desesperançoso que possa parecer, não ser minimamente cativado por esse amigável clube é uma tarefa que requer muita teimosia. Propondo-se um misto de duas propostas, Aokana permuta inteligentemente entre a temática esportiva e conveniências sociais. Tomando como assoalho um território em que a utilização dos Grav Shoes e subjacências são de graúda notoriedade, Shitou City é a simpática cidade em que o enredo tomará talhe definido. É precisamente nesta região, um arquipélago paradoxalmente tropical, em que o divertido clube de Flying Circus da Kunahama Academy toma sítio.
Com poucas escolhas a serem feitas durante o caminho principal, a história é boa, bem humorada, atrativa e tem o que expedir em termos de diversão e entretenimento. Existe uma rota específica para cada uma das quatro garotas, o que abre ensejo ao romance inescrupuloso, e sua temática é vasta em abordagens: talento intrínseco e esforço genuíno, espírito e psicologia esportivos, confronto com borrascas internas, fortalecimento de laços de confiança, etc. Outra característica positiva é o feitio dos personagens, que é inegavelmente muito agradável e carismático; mas alguns traços temperamentais são estereotipados, o que não corrobora originalidade.
Quanto ao ramo fictício, ele é surpreendentemente bem elaborado e, mesmo com sua tonalidade fantasiosa, é condizente com a expectativa psicológica e intuitiva de qualquer pessoa. Os postulados da Mecânica Clássica equacionam nas entrelinhas todas as explicações dissertadas, desde o funcionamento básico dos sapatos anti-gravidade até às estratégias mais rebuscadas de competição. De início, devido à resistência inerente do ser humano à mudança de paradigmas, o conceito por detrás desses equipáveis pode parecer um pouco absurdo e infundado, mas tudo começa a soar natural com as justificativas que são articuladas de modo acessível.
A criação dos Anti-Graviton Shoes, ainda que implicitamente, é um grande exemplo da estreita relação entre a ciência e a tecnologia. A primeira visa explicar a natureza, enquanto a segunda, apropriando-se deste domínio, proporcionado pela formalização do conhecimento científico, transmuta esse saber em algo prático que atende às demandas. Esse fim utilitário vem a ser, nesse espaço amostral, a adaptação das inovadoras partículas que revertem a gravidade para a locomoção aérea das pessoas. Interessante notar que, subsidiados por este hábito e algum lampejo de criatividade, surgiram métodos alternativos de aproveitamento dessa inclinação. Por consequência, novas construções e costumes, como os esportes aéreos, populares meios de entretenimento público, foram sendo vagarosamente incrustados na cultura humana.
A respeito da arte, os contornos, traços e cataduras gerais são lindos e pincelados com cores suaves e quentes. A multiplicidade de planos de fundo, modelos de personagem e animações é boa. Sem exceção, as cenas contêm ilustrações de primeiríssima ordem. Somando-se a esse zelo solícito, suas músicas são excelentes, ora atmosféricas, ora casuais, e a dublagem é vívida. Da mesma maneira merece menção a ocasional e fofa retratação “Chibi”, um charme que expressa vários acontecimentos cômicos e didáticos. Todo esse conjunto audiovisual é perfeito: não abre margem para críticas pessoais.
Aokana – Four Rhythms Across the Blue está disponível para PC, Playstation 4, Playstation Vita e Nintendo Switch.
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